quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Campos de rendas para sempre

O primeiro postal, neste novo blog que retoma a temática do Portadaloja, é sobre o Campus da Justiça, no Parque das Nações, na Lisboa do Oriente.

O jornal Público de hoje, citado aqui, dedica duas páginas ao tema. Com passagens assim:

O Campus de Justiça de Lisboa, inaugurado em Julho de 2009, custa ao Ministério da Justiça mais 10 milhões de euros em rendas e condomínio que as anteriores instalações, a maioria das quais alugadas. (...)
Apesar dos custos elevados, as queixas sobre o campus continuam. A falta de salas de audiências adequadas às necessidades é uma delas. Hoje mesmo começa o debate instrutório de um dos mais mediáticos processos judiciais, o da Face Oculta, e o Tribunal Central de Instrução Criminal teve que se transferir para Monsanto, porque no campus não existe uma sala com capacidade para albergar os 36 arguidos do caso. Este ano o mesmo aconteceu com o caso BPN.
  (...)
Num anexo do relatório de contas de 2009, o IGFIJ dá conta que a transferência para o campus de Lisboa fez os custos da electricidade disparar, e adianta: "Como consequência da mudança de instalações houve também um aumento no valor das rendas e do condomínio, na ordem dos 10 milhões de euros". A consulta da tabela das despesas mostra os números com outro detalhe. Além dos 16,3 milhões de euros gastos na locação de edifícios, o IGFIJ contabiliza ainda 3,7 milhões com encargos das instalações. Inicialmente, a verba que estava prevista era quase nove vezes inferior, ou seja, apenas 425 mil euros.  
(...)
No momento da assinatura do contrato de arrendamento com a Norfin (uma sociedade gestora de fundos de investimento imobiliários), o então ministro da Justiça, Alberto Costa, garantia que a transferência de instalações ia permitir uma poupança de quase 900 mil euros mensais e que cinco imóveis detidos pelo Estado ficariam disponíveis para vender. Calculava que, em condições normais, os negócios poderiam render cerca de 30 milhões de euros ao Estado. Contudo, algumas alienações nem sequer avançaram. Foi o que aconteceu com o edifício onde funcionava o Tribunal da Boa Hora, que esteve para albergar um hotel.  "

Quem é o senhorio do Ministério da Justiça? A Norfin. Um dos sócios do fundo imobiliário é Alexandre Relvas, um dos notáveis do PSD.
Quanto a Alberto Costa, antigo ministro da Justiça com discurso de garfo engolido, ainda no outro dia estava numa reunião partidária, do PS,  e foi mostrado pela tv. Profissionalmente, continua a fazer...política, pelos vistos.
Enquanto ministro ocupou-se a decapar o parco prestígio que os magistrados ainda tinham. Com tiradas pausadas no tema da democracia laica e direitos avulsos, renegou o pré-anunciado falhanço da reforma penal de 2007. Encarregou o Observatório do professor Boaventura de fazer um relatório extenso sobre esse autêntico chef d´oeuvre do reformismo socialista em matéria de justiça. O relatório foi publicado em partes e logo se adivinhou que a reforma deixara muito a desejar. O ministro não deu a mão à palmatória e não divulgou a última parte do mesmo.
Conforme agora se vê, a aposta no Campus da Justiça, foi igualmente falhada, em toda a linha.
Alberto Costa, sobre o assunto, não é visto nem achado.  Perdeu-se.

5 comentários:

  1. Ora, seja bem aparecido, meu caro.
    Essa história do "Campus da Justiça" fede, como já muita gente percebeu.
    A gestão ruinosa dos recursos do Estado tem neste caso uma exuberante demonstração.
    100anos

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  2. Eles aumentam-se a si próprios, vendem a si próprios, alugam a si próprios e ....elegem-se a si próprios ajudados pelas suas próprias empresas de estudos de mercado e sondagem.

    Mas o que mais me entristece nisto tudo, é que as pessoas continuam a ver isto como um problema só do PS ou do PSD, não conseguindo dar 1 passo atrás e observar que este fenómeno se entrelaça nos 2 partidos.
    Parabéns José pela nova Sebenta.

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