sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Os cegos que guiam cegos

 Vasco Pulido Valente, na sua crónica no Público de hoje repesca uma notícia já com alguns dias: alguns políticos portugueses e espanhóis terão sido convidados pelos novos poderes tunisinos para ensinarem à populaça local as regras de transição para a democracia. Entre os portugueses estão Mário S. António Vitorino e João Gomes Cravinho.
Supostamente, estes três intelectuais da coisa política saberão dizer aos tunisinos qual o caminho que terão de trilhar para chegar à tal democracia que almejam.
Este facto fez-me lembrar os meses a seguir ao nosso 25 de Abril de 1974 em que várias personalidades aterraram por cá, para também eles dizerem alguma coisa aos novos poderes, todos de esquerda e com o discurso bem sintonizado com a "revolução".
Entre esses, estiveram cá dois que me recordo bem.

Georges Moustaki, o cantor da Révolution permanente e de outras melodias de tom inesquecível e beleza ainda mais sublime ( sans blague) veio logo no Verão de 74 conforme se pode ler nesta entrevista publicada no Século Ilustrado de 3.9.1974. ( clicar para ler o que diz sobre os partidos e a revolução).


Outra figura imprescindível desse tempo, era Jean-Paul Sartre e a sua companheira Simone de Beauvoir. O que Sartre então disso, numa entrevista à Flama de 8.4.1975 e elucidativo do propósito que se preparava para Portugal: uma revolução comunista, sem tirar nem pôr.  Sartre, alguns anos depois e pouco antes de morrer, concedeu uma série de entrevistas ao Nouvel Observateur em que fez um balanço das suas convicções e admitiu o que muitos vieram admitir depois de 1989: o comunismo não presta como sistema político e só traz desgraça e pobreza. Porém, em 1974 o ambiente político em Portugal estava mais que propício para aceitar maioritariamente ideias de esquerda que deviam tudo ao comunismo e nos estragaram a perspectiva económino-social durante décadas. Ainda hoje se sentem esses efeitos, com um partido comunista que temos e que não por essa Europa fora exemplo semelhante. E um Bloco de Esquerda que domina a nossa política caseira como se fosse um partido que merecesse o mínimo de credibilidade política.
Estou plenamente convencido que muito do nosso atraso atávico se deve a essa ideia de Esquerda que permaneceu durante estas décadas como o aferidor do grau de democracia.

Os três políticos portugueses que vão à Tunísia não são mais que herdeiros desta mentalidade e que vai ensinar aos tunisinos o caminho que eles mesmos não trilharam como deviam. Cegos a guiar outros cegos, portanto

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